sábado, 30 de maio de 2009

Eu preciso aprender a jogar bola

Final do campeonato brasileiro, meu time contra o teu, vinte dois em campo, mais o juiz. É a segunda partida da decisão, é a final, a primeira vocês levaram e cabe agora ao meu time fazer um gol para que vocês não levem a taça por um empatezinho miserável.
Eu tô achando mesmo que meu time vai tomar um chocolate, o jogo é fora de casa e a minha torcida ficou em São Paulo enquanto a tua tá em peso aí. O jogo tá difícil, a marcação tá cerrada, meu time faz um monte de falta e quando o melhor atacante mira no gol ele só acerta a trave. O teu goleiro tá descansadão, nem faz muito esforço, ele poderia estar tomando café e comendo pão de queijo tranquilo porque a bola só vai pra fora, e é sempre tiro de meta pra você.
Do outro lado do campo meu goleiro não tem folga, pula de um lado, corre pro outro, faz defesas que nunca na vida eu pensei que fosse possível. Teus atacantes partem pra cima dos meus zagueiros sem dó, sem piedade, fazendo finta, dando elástico e chapéu. "Meu Deus, que vergonha" penso eu, teu time vai dar um banho no meu.
É nessa hora, no meio do jogo, que meu atacante raçudo pega a bola e sai do meu campo, em direção ao teu, correndo igual um louco. Eu levanto, igualmente louca, e grito, grito, grito até ficar rouca: GOLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL!
Meu coração dispara, bate tão forte e rápido que eu nem consigo acreditar.
Final do primeiro tempo e, por enquanto, a taça é nossa!
No segundo tempo meu time retoma a confiança e vai pra cima, às vezes uma bola escapa, parte pro nosso campo de defesa, teu time tenta, mas meu goleiro aguenta. Minha torcida se contenta com um gol, o técnico também, então o zagueiros tão fechando a entrada da área para travar teu time, tá funcionando, tá funcionando. Acontece que a bola fica perdida no meio de campo e o jogo fica sem lances bonitos. Mas dessa vez, só dessa vez, eu prefiro ganhar sem fazer firula, um gol tá bom eu fico repetindo enquanto o juiz não termina o jogo logo.
Mas futebol é desse jeito imprevisível, e equanto não vem o apito final a gente nunca pode estar relaxado, é tensão dos pés até a última ponta do meu fio de cabelo.
Quarenta e cinco do segundo tempo, tá quase no fim, o juiz tá com o apito na boca e numa jogada besta teu atacante rouba a bola do meu volante e sai driblando todo mundo. Eu perco o fôlego, eu tapo os olhos, e não vejo ele ir, só peço pro meu goleiro pular magistralmente e defender essa bola. Se a bola entra, é gol e meu time perde o campeonato. Segura, Marcos.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Ao que vai chegar

Oi, bebê, sei que a gente ainda não se conhece mas te comprei um macacão, sei, também, que vai demorar um tempo até que você caiba nele e é durante esse tempo em que nos conheceremos mais. Eu acho que você poderia chegar lá pelo dia vinte de janeiro, para eu ficar convencida de você ter nascido no mesmo dia que eu. Você seria do último dia de capricórnio, igual a mim, e eu devo te dizer, bebê, os capricornianos são os mais legais.
Saiba que comigo é deste jeito: você poderá montar nas minhas costas e eu te levarei de cavalinho até você ficar maior do que eu, com a sua irmã também é assim, ela vai te contar. Eu te amarei incondicionalmente, mesmo que você puxe meus cabelos, estrague minhas canetas ou amasse meus livros.
Quero te contar histórias, te pegar no colo, te comprar o primeiro livro e fazer caretas bobas pra você dar risada. Quero te amar como amo tua mãe e tua irmã mais velha. Aliás, acho mesmo que seremos parecidos, nossas irmãs são dez anos mais velhas do que nós; por isso, criança, aprenda a lição: eles serão uma espécie de mãe substituta, tipo reserva, sabe? Você a amará das duas formas, é incrível isso, é doce.
Pra você que vai chegar lerei as tirinhas da Mafalda, você não entenderá logo de cara, eu sei, mas vai gostar, eu tenho certeza. Vamos tirar um milhão de fotos para que elas completem a minha parede, junto com o resto da nossa família.
Fico feliz de você estar chegando, a gente sofre um desfalque dali e logo vem a substituição, foi assim há dez anos, é assim agora. Nós nunca deixaremos de lembrar daqueles que você não pôde conhecer, mas sua irmã te contará, eu sei, seu sei.
Eu quero mesmo, bebê, que você seja feliz, que saiba me entender e amar como eu sou, farei o mesmo com você, juro que farei. Espero que o mundo seja tão doce quanto você merece e eu sei que será.

Bebê, eu te espero, no tempo certo venha para cá.

Te amo desde já, te amo desde de sempre.
Sexta-feira da paixão

Alguns estão dormindo de tarde,
outros subiram para Petrópolis como meninos tristes.
Vou bater à porta do meu amigo,
que tem uma pequena mulher que sorri muito e fala
pouco, como uma japonesa.
Chego meio prosa, sombras no rosto.
Não tenho muitas palavras como pensei.
"Coisa ínfima, quero ficar perto de ti".
Te levo para a avenida Atlântica beber de tarde
e digo: está lindo, mas não sei ser engraçada.
" A crueldade é seu diadema..."
O meu embaraço te deseja, quem não vê?
Consolatriz cheia das vontades.
Caixa de areia com estrelas de papel.
Balanço, muito devagar.
Olhos desencontrados: e se eu disser, te adoro,
e te raptar não sei como dessa aflição de março,
bem que aproveitando maus bocados para sair do
esconderijo num relance?
Conheces a cabra-cega dos corações miseráveis?
Beware: esta compaixão é
paixão.
Ana Crisitna Cesar

Porque eu fico imaginando, com um certo pesar, é verdade, como deveria ser lindo a Ana Cristina recitando esse poema. Com aquele ar de musa que faz Armando Freitas Filho chorar até hoje (!!!).
É o meu poema preferido desde quando, em São José dos Campos, peguei pela primeira vez o "A teus pés" e li, numa tarde de julho ou abril.
Hoje ele me cabe redondinho aqui.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Quem dera todos os dias fossem de joelho rasgado às seis-e-vinte-cinco da manhã!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Acho que fiquei uns dois meses repetindo que não era justo. Até eu perceber que não era justo mesmo, e nem tinha que ser. Aí parei de repetir, né?

domingo, 24 de maio de 2009

Você chega com historinhas mirabolantes,
me canta fingindo não cantar,
me faz cair na tua pra depois me dispensar.
Aí eu canso, viro as costas, vou embora,
E você volta, no desespero, pra tentar reconquistar.
Morde, assopra, beija e rejeita, depois diz qualquer
coisa pra fingir que se importa e eu digo sorrindo:
"com você, só rindo".

sábado, 23 de maio de 2009

Cansei de mulher-problema,
o que eu quero agora é mulher-solução.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Porque tudo é tão bonito que os olhos até doem de ver.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Da noite que pensei ter amado

П.

Eu te beijaria com a ânsia que só os esfaimados conhecem. Devoraria, então, teu corpo, ocupando-me de tocá-lo e prová-lo em todos os teus pormenores, no desejo debalde (coisa que só adiante descobriria) de te sabê-la por inteiro, de conhecer cada milímetro de você. Crendo, com a inocência mais cruel porque é cega, ser você capaz de conter tão parcos segredos.

domingo, 17 de maio de 2009

Aqui os meus crimes seriam de amor*

Estou aqui para confessar um assassinato. Já faz um tempo, eu sei, mas essa mistura de culpa e alívio tem me perseguido desde então, e por isso mesmo eu preciso confessar. Acho que ninguém, evidentemente, sente falta da minha vítima, o que não torna o crime nem mais bonito, nem mais digno, mas confesso, senhores, eu precisava matar. Poderia aqui argumentar que foi em legítima defesa, contudo vocês me perguntariam do que eu me defendia e isso eu não posso revelar. Matei. Matei sufocando, estrangulando, não porque eu não queria que sangrasse, muito pelo contrário, eu queria que derramasse muito sangue, bem vermelho, para sujar o chão e se misturar ao meu sangue que também estava ali, seco, mas sufoquei porque queria ver a minha vítima agonizar, chorar, implorar, para compensar o que eu já tinha chorado, agonizado e implorado por todo tempo que esteve viva. Como eu disse, sinto culpa, mas alívio é tão superior ao crime, não havia escolha. Tentei várias vezes e sem sucesso, afastá-la de mim, entretanto como um cão sem dono, fácil e carente, ela corria atrás de mim e, senhores, eu me entregava.
Depois de morta e enterrada acreditei que nunca mais a veria, porém há alguns dias ela tornou a aparecer, primeiro de maneira discreta, e então eu conseguia escondê-la entre uma frase e outra, no meio de outras pessoas, agora ela praticamente me persegue, sinto que voltará, que tomará meu corpo porque, como uma vontade insatisfeita, deseja renascer em mim. Não posso permitir, não posso, como também não posso contar aos meus amigos que a vejo, porque se antes eles não se davam conta dela, agora é que não podem, e não devem sabê-la. Tenho medo que, cedo ou tarde, ela também me sufoque, me mate. Preciso evitar enquanto ainda há tempo, porque, a cada dia que passa, ela volta com mais um pouquinho de força e eu nego, como já neguei tantas vezes enquanto relutava para não matá-la.

*Em contraposição a frase: "aqui os meus crimes não seriam de amor" A.C.C.
E, sim, o texto tá uma merda.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

"Here comes the sun"

Eu sei que o sol virá, que, cedo ou tarde, ele voltará a nascer, a esquentar, a trazer de volta para vida tudo aquilo que o inverno fez dormir, fez ressecar. Um dia, sem mais nem menos, por uma pequena fresta da janela do meu quarto verei um rastozinho de luz, abrirei a janela e a estrela maior se mostrará, viva, quente. Fecharei os olhos com força para abri-los em seguida, devagarzinho, porque é assim que acontece quando você fica muito tempo distante da claridade, principalmente da luz do sol, os olhos ardem e doem como se um milhão de agulhas bem finas entrassem ao mesmo tempo dentro deles.
Neste momento, no entanto, é interessante permanecer assim, num escuro que não promete luz ao amanhecer, e talvez, tão cedo, nem vá prometer. A última luz bonita que havia você levou quando foi embora, desde então só tem feito chover, chover num escuro no qual me escondo.
Há de clarear, eu sei, você também, mas é nessa ausência de luz que guardo cada pedaço teu que consegui arrancar enquanto ainda havia tempo, cada segredo escondido sob as linhas finas do teu rosto, sob o teu sorriso largo e teus olhos miúdos. Tudo que existia e que era nosso. Enquanto calco um esconderijo para esses pedaços é é extremamente importante que o sol não retorne, não quero correr o risco do calor derreter essas memórias tão parcar que custei tanto para esconder, para proteger.
No escuro tenho enxergado muito mais do que antes, é como se meu corpo ganhasse poderes especiais para que eu aprendesse a viver assim, para que eu aprendesse a conviver com a ausência ganhei a escuridão. A luz volta, eu sei, assim que aprender. Por enquanto, já que o sol não vem, aproveita e canta no meu ouvido, por favor, qualquer baladinha que quiser, nesse seu ritmo torto que é tão lindo, que é tão seu e que eu não consegui salvar.