segunda-feira, 29 de março de 2010

Garganta

"Meu coração alhures."
Ana Cristina Cesar


Pedirei para que não se aproxime mais, para que não dê um passo além deste último. Por favor, para o teu bem e para o meu também, mantenha distância. Se você se aproximar mais serei obrigada a puxar uma conversa e a fignir que entendo todo o teu desespero, mas veja, eu não entendo nem o meu. Precisarei usar alguma frase clichê para te consolar da tua solidão e, no entanto, sou eu que volto para casa sozinha todos os dias. Por favor, não chegue mais perto de mim porque o inevitável se dará e é dele que fujo toda vez que te vejo. Vamos nos manter nessa zona segura de distância. Não se aproxime pois sei que irá embora, e te esperarei pensando que não foi só porque teve tua vontade saciada. Até que o tempo resolva me provar o contrário. Então, quando se afastar novamente da tua zona de conforto e o meu telefone for o primeiro da tua agenda, não ligue. Mas se mesmo assim insistir em ouvir minha voz, não diga que foi a falta de tempo que nos afastou. Saberei que é mentira e não será agradável ouvir.
As minhas palavras não podem te dar o conforto que procura, não faça com que eu me sinta uma puta verborrágica que te enche o ego quando melhor te aprouver. O prazer é teu, mas sou eu que fumo o cigarro de depois. E bebo café quando a porta bate seco e você vai embora. Quando o silêncio fica maior até me ensurdecer. Não é por maldade que peço distância, vê? Depois que parte sou que fico a inventar histórias que não irão te substituir. Sou eu que espero com os olhos fixos na janela. E perco as tardes, os meses, os verões, as primaveras. Pensando bem, é por maldade sim. Pela maldade que me faz e não consegue perceber. É por isso que te peço, com a voz no meio da garganta: não ouse dar um passo adiante para perceber que todo esse meu discurso cairá por terra.


Com o pensamento em Anna, e na Mel que leu minha alma quando escreveu.

domingo, 28 de março de 2010

O post de hoje tá lá no Litteramovie. : )

segunda-feira, 22 de março de 2010

"And before we talk of any repentance, try walking in my shoes"

Não sei se foi o tempo ou você que me deixou essas marcas no rosto. Esse meu olhar extremamente cansado, eternamente perdido e à procura de sanar uma falta que nunca deixará de faltar. O fato é que um dia, quando andar distraída em meio a multidão de rostos sem forma daquela cidade, um, apenas um deles, tomará uma forma que há tempos conheci, será você. Com um cabelo diferente, a mesma pele branquinha, um rosto mais velho, mais cansado também. Cansado, talvez, dessa vida cavala que levamos e insistimos em levar. De longe verei o teu sorriso se abir, depois os braços, depois a boca, que lentamente se abre para me dar um beijo na bochecha. Eu que há tanto tempo não pensava em ti, que já havia esquecido tanta coisa que fazia questão de lembrar, me vejo ali, envolvida pelos teus braços cansados.
Você me falará amenidades, comentará sobre o meu cabelo, sobre os meus óculos escuros e o meu perfume amadeirado. Eu vou sorrir pensando que por tanto tempo eu desejei esse encontro meio de tropeço, tanto tempo. E justamente agora não fazia mais sentido. Olharei o relógio, um pouco atarantada é verdade, direi que preciso correr já que quero muito um café e preciso trabalhar. Você insistirá em pedir meu telefone e querer que eu anote o teu. Não vai perceber que agora, justo agora, não tem mais importância. Meu estômago vai embrulhar, vou tontear e dizer que é do calor, que é a multidão e que desenvolvi uma espécie de aversão às pessoas, mas não direi que a culpa foi tua.
Despediremo-nos meio sem jeito, você me convidará para um cinema e eu gentilmente tentarei declinar do convite, aos poucos se afastará, como da última vez, nesse exato momento terei saudade, assim como os portugueses, do futuro que não veio e que hoje é só um passado que não aconteceu.

segunda-feira, 15 de março de 2010

"The hope that starts the broken heart"

Não vai gostar de ler as linhas que se seguem, portanto aviso: pare por aqui. O que virá a seguir será amargo, e de amargo já me basta eu, já nos bastamos nós. Por favor, não tente me convencer com as tuas palavras gastas que "foi melhor assim". E nem tente argumentar de maneira tão falaciosa que só você pode crer. Não quero mais brincar do teu jogo e também não quero propor o meu. Perderíamos ambos. Não nos sabemos e não queremos saber. De ti tenho apenas uma imagem idealizada, colocada num grande pedestal para contemplar nos dias em que a vida dói. E dói. De mim, tem a imagem equívoca e torpe que todos têm ao me conhecer porque é apenas essa que sei mostrar. Os romances que li não são os mesmos que ocupam lugar e tomam pó na tua estante, assim como não sou eu quem cabe na tua cama. E jamais caberia. Se por um minuto te dei o que melhor que pude dar, confesso saber que não foi o bastante e nem poderia ser. Não sei como as coisas são, embora saiba bem como não deveriam ser. Nesse tipo de troca tem sempre alguém que sai perdendo. Porque não é troca e nós sabemos bem o outro nome que esse tipo de coisa tem. As coisas idealizadas precisam ficar no lugar das coisas idealizada pois além disso não são e não podem ser. Como não somos, não fomos e nem poderíamos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

E foi no paraíso que eu encontrei o inferno

Gosto do barulho da chuva quando bate no telhado de alumínio. Acalma porque os pingos parecem feri-lo e assim aproximamo-nos. Gosto dessa sensação de suposta calmaria interna e confusão extenuante do lado de fora, mesmo que o real não seja isso ou não seja tão somente isso. Os olhos doem e a vida arde. Ou seria o contrário? No fim, tudo a mesma coisa. E nada. Gosto do chão molhado e do cheiro da chuva que molha o gramado. Na verdade eu gosto mesmo dos clichês. Você tem razão. Mas não gosto do teu sentimento querendo ser maior do que o meu. E das verdades que insistem em se tornar mentiras. Não gosto dos dias em que me sinto pária na vida. E por assim dizer já é de se imaginar que não são muitos os dias dos quais gosto. Entretanto o silêncio é bom. Se não fosse por todo esse barulho aqui dentro. E por isso não há silêncio que baste. Gosto desse lugar. E se tivesse alguma maneira de te fazer entender o quanto eu gosto de você juro que faria.