Para A.
Não sou eu que revisito a dor todos os dias, não. Ao contrário, é ela que não cansa de bater em minha porta de maneira insistente trazendo sempre lembranças tuas. Enquanto isso procuro lugares para me esconder, mas estou sempre aqui, no mesmo lugar, todos os dias e finais de semana, até naqueles que não estou. Mesmo que não. E sempre procurando um modo de reconstruir nossos caminhos, de voltar atrás e dizer tudo o que disse e deixei de dizer. Outra vez. Se alguém me pergunta quanto tempo faz, direi um ano e seis meses, dois anos, 3 meses, não importa. Para mim sempre foi ontem. Sempre hoje que atendi o telefone e silêncio, porque já não havia mais nada a dizer. Entre todas as infinitas combinações de palavras, entre tudo que é possível dizer em todas as línguas, só uma não deveria ser dita. Então silêncio, porque eufemismos só pioram a situação ao invés de amenizar como pensam muitos. Eu queria o tempo todo do mundo de novo. O tempo todo de novo. De novo. Para passar do teu lado sem deixar escapar um minuto. Não sei quantos infernos eu já conheci, por quantos caminhos estranhos já andei a te procurar, e por claras razões não encontrei e não vou encontrar. E ontem é sempre hoje, e amanhã será também. E uma parte de mim sempre presa a um pedaço de história que não posso recontar, que não posso reconstruir, que não posso mudar o final e que por isso não tem um final feliz. Mesmo que os domingos sejam de sol e estejam todos no mesmo lugar.
"E uma parte de mim sempre presa a um pedaço de história que não posso recontar, que não posso reconstruir, que não posso mudar o final e que por isso não tem um final feliz. "
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