sexta-feira, 8 de maio de 2009

"Here comes the sun"

Eu sei que o sol virá, que, cedo ou tarde, ele voltará a nascer, a esquentar, a trazer de volta para vida tudo aquilo que o inverno fez dormir, fez ressecar. Um dia, sem mais nem menos, por uma pequena fresta da janela do meu quarto verei um rastozinho de luz, abrirei a janela e a estrela maior se mostrará, viva, quente. Fecharei os olhos com força para abri-los em seguida, devagarzinho, porque é assim que acontece quando você fica muito tempo distante da claridade, principalmente da luz do sol, os olhos ardem e doem como se um milhão de agulhas bem finas entrassem ao mesmo tempo dentro deles.
Neste momento, no entanto, é interessante permanecer assim, num escuro que não promete luz ao amanhecer, e talvez, tão cedo, nem vá prometer. A última luz bonita que havia você levou quando foi embora, desde então só tem feito chover, chover num escuro no qual me escondo.
Há de clarear, eu sei, você também, mas é nessa ausência de luz que guardo cada pedaço teu que consegui arrancar enquanto ainda havia tempo, cada segredo escondido sob as linhas finas do teu rosto, sob o teu sorriso largo e teus olhos miúdos. Tudo que existia e que era nosso. Enquanto calco um esconderijo para esses pedaços é é extremamente importante que o sol não retorne, não quero correr o risco do calor derreter essas memórias tão parcar que custei tanto para esconder, para proteger.
No escuro tenho enxergado muito mais do que antes, é como se meu corpo ganhasse poderes especiais para que eu aprendesse a viver assim, para que eu aprendesse a conviver com a ausência ganhei a escuridão. A luz volta, eu sei, assim que aprender. Por enquanto, já que o sol não vem, aproveita e canta no meu ouvido, por favor, qualquer baladinha que quiser, nesse seu ritmo torto que é tão lindo, que é tão seu e que eu não consegui salvar.

Um comentário:

  1. lindo demais. desses lindos que dóem, porque vieram, mas já foram, sem sobrar.

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