segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sempre mais do mesmo

A vida conta-se inteira,
em letras de conclusão.
Carlos Drummond de Andrade

Faz mais de dez meses que não ouço a tua voz e que o teu cheiro se perdeu entre as paredes frias da casa e as tuas mudas de roupa que já não estão mais lá. Dez meses e os meus sábados nunca mais foram os mesmos. Falta. Há um espaço que coisa alguma conseguiu preencher e temo em segredo que nada, nunca, preencherá.
No alarms and no surprises, please. Voltar ao mesmo lugar depois de tanto tempo foi como reabrir portas que, sem sucesso, procuro esquecer que existem. Rasgou-me, como rasga-me tantas vezes quando eu penso, tal qual Drummond, a falta que ama. Rasgou assim, de ponta a ponta, mais uma vez. Engasguei com o choro que supunha eu estar contido enquanto as lágrimas denunciavam o contrário.
Dez meses e eu ainda quero explicações que ninguém mais pode dar. Não entendo como é possível amar assim. Amar mais. E o ano não termina, não termina, não termina, não termina, não termina. Correr demais também não adianta porque você não está lá. Dia após dia atesto a minha incapacidade de dar-te as costas, por mais que precisemos, todos. Quedo-me, incólume(?), no mesmo lugar dos vinte-e-três, dos vinte-e-quatro. Os vinte-e-quatro que eu nunca quis que existissem, é sempre nos vinte-e-quatro. Quero pular os vinte-e-quatro e fingir que nunca houve, quero pular doismilenove e fingir que nunca houve. Nunca houve. Nunca houve e não termina, não termina.


[É, samba de uma nota só esse blog, desde o primeiro post.]

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