Não sei se foi o tempo ou você que me deixou essas marcas no rosto. Esse meu olhar extremamente cansado, eternamente perdido e à procura de sanar uma falta que nunca deixará de faltar. O fato é que um dia, quando andar distraída em meio a multidão de rostos sem forma daquela cidade, um, apenas um deles, tomará uma forma que há tempos conheci, será você. Com um cabelo diferente, a mesma pele branquinha, um rosto mais velho, mais cansado também. Cansado, talvez, dessa vida cavala que levamos e insistimos em levar. De longe verei o teu sorriso se abir, depois os braços, depois a boca, que lentamente se abre para me dar um beijo na bochecha. Eu que há tanto tempo não pensava em ti, que já havia esquecido tanta coisa que fazia questão de lembrar, me vejo ali, envolvida pelos teus braços cansados.
Você me falará amenidades, comentará sobre o meu cabelo, sobre os meus óculos escuros e o meu perfume amadeirado. Eu vou sorrir pensando que por tanto tempo eu desejei esse encontro meio de tropeço, tanto tempo. E justamente agora não fazia mais sentido. Olharei o relógio, um pouco atarantada é verdade, direi que preciso correr já que quero muito um café e preciso trabalhar. Você insistirá em pedir meu telefone e querer que eu anote o teu. Não vai perceber que agora, justo agora, não tem mais importância. Meu estômago vai embrulhar, vou tontear e dizer que é do calor, que é a multidão e que desenvolvi uma espécie de aversão às pessoas, mas não direi que a culpa foi tua.
Despediremo-nos meio sem jeito, você me convidará para um cinema e eu gentilmente tentarei declinar do convite, aos poucos se afastará, como da última vez, nesse exato momento terei saudade, assim como os portugueses, do futuro que não veio e que hoje é só um passado que não aconteceu.
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