terça-feira, 5 de outubro de 2010

Inconfissões III

quero reaprender o amor na respiração das tuas mãos
quero-me sentado nas pálpebras quietas do teu olhar.
quero me goiabar em ti, caroço e casca, verme e moço, seiva e corpo
tu – minha noite redonda
minha madrugada mulata.
Ondjaki in: Dentro de mim faz Sul

Tento esquecer que dentro de mim é festa quando os meus olhos encontram os teus, quando o teu abraço se encaixa tão aconchegantemente no meu, quando o mundo para por um instante e tenho ganas de surrurar em teu ouvido todos os segredos que te escondo, que me escondo, confessando aquilo que já sei, que já sabe e fazemos tanta questão de negar. A confissão das nossas bocas mudas por medo, por respeito, por conveniências. Porque o silêncio nesses casos é a melhor forma de proteção. E quero mesmo me proteger, te proteger daquilo que tanto queremos e não ousamos dizer. Tento esquecer os clichês quando os meus dias se enchem de luz enquanto tenho em meus dedos o teu longo cabelo negro e sei que não devo desejar muito além. Tento tanto. Temo tanto. Tanto que o tato falta e fico distante sem querer estar. E o que pode parecer jogo é só um modo de conseguir não me machucar, não me enganar, não me entregar. Escapo por onde você me prende, mas me entrego sempre no próximo passo. Se percebe, disfarço. Mas volto, sempre volto porque sem que eu saiba ou faça questão de saber meus pés caminham procurando esse sossego tão inquieto que só você soube trazer. E, talvez, no fundo, não me interesse mesmo saber como tudo isso irá acabar contanto que possamos sempre continuar.

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