sábado, 10 de abril de 2010

Das misérias humanas

Foi um verão atípico: vazio, frio, triste. Um verão chuvoso, “nubloso”, “invernoso”. Um verão com cara e gosto de inverno, daqueles que perduram por um bom tempo, um tempo indefinido, e destroem plantações, prejudicam invernos. Chegamos nos tempos escuros, aqueles em que tudo é noite, tudo é solidão e sofrimento. As ruas de São Paulo estão, ainda, cheias de gente, cheias de corpos, almas e mentes que transitam esbarrando-se, tocando-se, mas sem se misturarem. O corpo está ali, a mente não.
Ficamos sem saber se esse ano que acabou de começar traz novos e bons presságios. Tudo parece um cortejo contínuo do ano que partiu, e que, de alguma forma, também nos partiu, continua a partir, sem que haja tempo para nos desvencilharmos de nós, dos outros, de tudo. O verão continua como um inverno barato, sem graça, sem cor, e com um silêncio insuportável.
A casa que outrora foi quente apresenta-se fria, vazia, e no lugar daqueles sons tão característicos, agora queda-se o silêncio em uma grandeza sem fim. Uma grandeza capaz de comportar o mundo inteiro. Eu, você, nós todos. Só não pode suportar o mundo que pusemos, todos, cada qual em seus ombros.
Custou-me ter coragem para sentar e escrever, as palavras cobram-me de uma maneira dolorida. Custou-me noites, tempo, vontade. É engraçado como somos capazes de caber em meia dúzia de palavras e, ainda assim, não cabermos em nós. “Hoje sou eu que estou te livrando da verdade”, porque me sobro em mim, me perco em mim. Perco-me porque te procuro, porque procuro os demais e sei que não posso encontrar.

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