segunda-feira, 7 de junho de 2010

Inventando finais

Tenho lido muito, mas não o suficiente. Leio até a cabeça doer ou até que eu seja incapaz de distinguir uma linha da outra. Leio e durmo. Bebo café e fumo. E leio. Vou procurando outras histórias para esquecer a minha, vou vivendo a vida de outras pessoas. Fui Kianda, Oskar, Ermes Marana, Cauby, Bartolomeu Falcato, Lavínia, Besdômny, 3,14, contudo não ouso ser Ludmila, nem no livro do Calvino, com dois Ls. Quiçá o Leitor. Quiçá. Ainda assim, por incrível que pareça, as histórias que leio recontam a minha própria história. Eu sei, enxergamos aquilo que queremos, e mesmo tapando os olhos eu ainda vejo pelas frestas entre os dedos. Posso até reconhecer parte de mim e de você e de outros tantos nas páginas dos livros, entretanto não é isso que procuro. Busco os romances porque preciso de um final, e se não o tenho na vida, tê-lo-ei em todos os livros lidos e relidos.
Agora, sinceramente, não importa mais. Não faz mais diferença. Já que não posso construir histórias recorro a quem sabe e pode. Gente que inventa passado. Gente que inventa gente. Eu poderia ter inventado você. Na verdade acho até que inventei. Construi um simulacro do que eu acreditava ser. E fui inventando. Sigo inventando. Invento cartas, invento futuros, invento infâncias felizes em lugares que só a saudade pode alcançar. Vamos brincar de construir realidades. Dentro e fora daqui. A doutorazinha a curar loucuras em mim. Há de curar. Nesses delírios a gente sempre pensa que é Ana Cristina. Um dia se atira janela a fora. Belo belo. Tenho tudo que fere.

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