segunda-feira, 5 de julho de 2010

Jamais assez loin?

Uma vez, já faz alguns anos, em um desses amores de quadrilha que eu insisto em arrumar, me apaixonei por alguém que gostava de outra pessoa. Virei amiga. Pior, virei confidente e acompanhei de perto todas as idas e vindas do relacionamento fadado ao fracasso. Em todas as brigas do casal ela insistia em mencionar uma música de uma cantora quebecois que, brega ou não, é umas das minhas preferidas e que dizia algo mais ou menos assim: "todos os trens, todos os barcos, todos os aviões, nunca me levarão longe o suficiente". Pois bem, a necessidade que ela sentia de se afastar era rapidamente combatida pela crença de que nada , nunca, poderia levá-la longe o suficiente daquilo que sentia. Isso também serviu para mim, para essa paixão e para algumas outras (que não foram muitas) depois desta. Acreditei por muito tempo que nunca estaria longe o suficiente das paixões que não me corresponderam e daquelas que, por algum motivo, eu também não pude (ou não soube) corresponder.
É difícil viver entre quases e nuncas, entretanto, apesar da distância, mesmo não conseguindo me afastar do que sentia, era melhor estar longe, ainda que não o suficiente. Evidente que eu só tinha essa atitude quando todo o resto já tinha degringolado e não sobrava muita coisa a fazer. Deixando tudo para trás era mais fácil de começar de novo e esperar todos os muros que construi serem derrubados novamente para o ciclo se repetir. O que eu quero dizer é que ficar longe, de uma maneira ou de outra, só me afastou fisicamente do problema porque, para que desse certo, era necessário que me afastasse de mim. Mas assim, de longe, por algum motivo que desconheço, as coisas sempre se arrumaram aos poucos - nunca consegui ficar para saber se elas se resolveriam da mesma maneira, acho que não; tem sempre um momento que você precisa romper com a inércia. Então, é nesse momento, ao fazer a escolha, que acabamos perdendo, a pessoa, o corpo, a voz, as palavras, porque enxergamos a pessoa de uma maneira que está muito mais para mundo latente do que inteligível. E dói, dói porque não queremos perder as conversas e porque, de alguma maneira, estamos a enterrar alguma coisa que se nunca foi, já não é mais. O bom disso tudo, o inesperado disso tudo, é saber que o tempo pode trazer de volta alguma dessas pessoas de outra maneira. Que depois de um certo tempo é possível enxergá-las de uma forma humana e bem menos idealizada. Mesmo nunca longe o suficiente é possível tê-las por perto sem todo o peso de antes. Achamos que nunca vamos esquecer o cheiro, o gosto, a cor dos cabelos e é provavel que nunca esqueçamos mesmo, mas tem um instante que podemos voltar e guardar tudo o que sobrou sem nos machucarmos. Eu acho, ainda que não tenha certeza.

[esse foi o post de número 200!] : ]

3 comentários:

  1. "Evidente que eu só tinha essa atitude quando todo o resto já tinha degringolado e não sobrava muita coisa a fazer. Deixando tudo para trás era mais fácil de começar de novo e esperar todos os muros que construi serem derrubados novamente para o ciclo se repetir. "

    é... pois é.

    mas gostei da idéia de quebrar a inércia. gostei do gosto do "podemos voltar e guardar tudo o que sobrou sem nos machucarmos. "

    eu também acho.

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  2. cara, achei incrível. muito objetivo e singelo, esclarecedor e delicado, me identifiquei demaaais

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