domingo, 30 de maio de 2010

"A vida não é filme você não entendeu"

Para A.

Não sou eu que revisito a dor todos os dias, não. Ao contrário, é ela que não cansa de bater em minha porta de maneira insistente trazendo sempre lembranças tuas. Enquanto isso procuro lugares para me esconder, mas estou sempre aqui, no mesmo lugar, todos os dias e finais de semana, até naqueles que não estou. Mesmo que não. E sempre procurando um modo de reconstruir nossos caminhos, de voltar atrás e dizer tudo o que disse e deixei de dizer. Outra vez. Se alguém me pergunta quanto tempo faz, direi um ano e seis meses, dois anos, 3 meses, não importa. Para mim sempre foi ontem. Sempre hoje que atendi o telefone e silêncio, porque já não havia mais nada a dizer. Entre todas as infinitas combinações de palavras, entre tudo que é possível dizer em todas as línguas, só uma não deveria ser dita. Então silêncio, porque eufemismos só pioram a situação ao invés de amenizar como pensam muitos. Eu queria o tempo todo do mundo de novo. O tempo todo de novo. De novo. Para passar do teu lado sem deixar escapar um minuto. Não sei quantos infernos eu já conheci, por quantos caminhos estranhos já andei a te procurar, e por claras razões não encontrei e não vou encontrar. E ontem é sempre hoje, e amanhã será também. E uma parte de mim sempre presa a um pedaço de história que não posso recontar, que não posso reconstruir, que não posso mudar o final e que por isso não tem um final feliz. Mesmo que os domingos sejam de sol e estejam todos no mesmo lugar.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Dúvida

A questão ganhou voz na última quarta-feira, o meu exemplo era: pense na comida que você mais gosta, se pudesse comê-la apenas uma vez e nunca mais experimentá-la novamente o que você preferiria? Como essa ideia foi questionada mudei a pergunta, então pense aí, meu querido leitor, preferiria você ficar apenas uma vez (inclua no ficar tudo o que te apetecer) com a pessoa que você mais gostou na vida, sabendo de antemão que tal experiência (mesmo que maravilhosamente boa ou ruim) jamais se repetirá novamente porque a outra pessoa não pode corresponder aos seus sentimentos OU você escolheria nunca ter qualquer tipo de contato porque, afinal, a gente só sente falta daquilo que pôde ter (não?) ?
Entre ter o desejo amoroso saciado apenas uma vez para nunca mais ou passar o resto da vida sem ter que lembrar de algo que foi maravilhoso mas que não pode ser repetido, o que você escolheria?

Respondam a perguntinha filosófica (sic!) per favore!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

"Uma carta que não vai seguir" (?)

"Certas melancolias só a correspondência recupera."
Ana Cristina Cesar


Sinto a tua falta. Dói a tua ausência da minha vida. Mesmo que a presença fosse só na primeira sexta-feria do mês na Augusta com a Jaú. Era um ritual, ainda que só eu mesma pudesse perceber e em segredo desejasse que todos os dias do ano fossem a primeira sexta-feira do mês na Augusta com a Jaú. Futuramente também desejei que todos os dias fossem domingos de sol para ir ao parque jogar bolinhas para cachorros. A vida perfeita poderia ser, então, a alternância entre essas sextas-feiras e esses domingos. Eu juro que seria incapaz de enjoar - embora a gente jure tanta coisa que não pode cumprir. Mas eu juro, sem precisar ou sem que me peça: jamais me cansaria.
Em contrapartida também me dói a madrugada de uma sexta-feira da paixão em que uns cem quilômetros me separavam de ti. E talvez aquela tenha sido a primeira sexta-feira de mês que odiei e praguejei com afinco em muito tempo. "Conheces a cabra cega dos corações miseráveis?".
Não sei qual das duas dores me incomoda mais. Acho até que se alternam de acordo com meu humor. Ou falta de. No último mês, se interessa saber, passei por todos os estágios de sentimentos possíveis e descobri outros que nem nome devem ter, encaixando-se na categoria de inclassificáveis, uma vez que não é possível saber se são bons, ruins, agradáveis, maldosos - impossível até de saber se são reais. Porventura cá estou tendo grandes chances de nada sentir. E se isso que sinto de vez em quando se classifica como nada, devo dizer que até sentir nada pode ser dolorido.
Pensei em você todos os dias. Nem que pensasse todas as noites especulando respostas antes de dormir. Nem para que fosse você a última coisa bonita para pensar enquanto o sono não me encharcava todo o corpo e me fizesse afogar em transe profundo. Nem que fosse para sonhar com você. E sonhei. Acordada e dormindo.
Formulei dezenas de perguntas e as tenho aqui, todas guardadas na minha cabeça. Acho, sim, que merecem respostas, no entanto não tenho o mínimo direito de fazê-las. A grande confusão foi descobrir, estando a pelo menos cem quilômetros de distância anteriomente mencionada, que alguém pôde fazer o que não pude. E naquele instante me tiravam o par da dança. Eu já havia visto a cena acontecer mesmo quando não acontecia. E doeu. Doeu bem fundo como dói quando perdemos aquela coisa preferida. Aquela que, se pudéssemos, guardávamos em uma redoma de vidro para que ninguém, nunca, jamais, em hipótese alguma, colocasse a mão. Só nós mesmos e ainda assim com extremo cuidado porque a sabemos delicada.
Senti inveja também - sentimento amargo e nauseante como o último gole de café que a gente bota na boca por teimosia -. Inveja de não ser eu a te tocar o cabelo com as pontas dos dedos, ou te enlaçar em meus braços e sussurrar qualquer coisa bonita no teu ouvido. Mesmo que tudo isso agora pareça uma ideia bastante idílica. Esse tipo de sentimento é capaz de comer, dia após dia, a razão da pessoa, tal qual comia a águia o fígado de Prometeu. Capaz de fazê-la cair em um abismo de malogros e outras coisas que não te interessam saber.
Nesse exato momento eu realmente não sei onde estou e o que posso esperar. Sei bem que o que quero, mas de nada me adiantar saber já que não posso ter. Também sei o que não quero, entretanto não é possível desmanchar passados e inventar futuros. Lido com a concretude do presente e com ela pouco sei o que fazer; apenas sinto sua frieza congelar minhas mãos.
Não sei se em algum momento já se sentiu assim. Espero que não. Embora algures em mim, mais sádico, mais obscuro, aguarde por uma resposta positiva para que reconheça o consolo das próprias dores nas dores dos outros. Que miseráveis medíocres somos nós.
Todas as contradições que sou incapaz de entender; e você, de explicar.
O que podemos fazer diante disso tudo? Antevendo a tua resposta te digo: eu também não sei.

Um beijo,

L.

P.S.: contraponho a teoria de que escrever alivia, pelo contrário, expõe ainda mais toda a angústia com a qual somos incapazes de lidar.

domingo, 9 de maio de 2010

Das misérias humanas; dos medos mundanos

A mulher negra de lenço na cabeça e vestes simples no meio da rua com os olhos fechados e a garoa fina a molhar o seu corpo que balançava lentamente de um lado para outro. A molhar as compras acomodadas no carrinho de mercado também estacionado no meio da rua, a molhar os três vira-latas que circundavam a senhora e que dali não arredariam as patinhas até que de lá sua dona resolve se mexer saindo da espécie de transe que a chuva parecia abençoar.
A garoa se debruçando sob o asfalto esopado de água que não cessava em cair. A mulher parada no meio da rua. Os cachorros em volta. O carrinho. As compras. Tudo a molhar. Os carros passando e ignorando a cena, - como se fosse mesmo normal velhinhas com carrinhos de supermercado atravancarem o trânsito, mesmo de ruazinhas pouco movimentadas.
Temos medo de enlouquecer e, portanto, ao menor sinal de loucura, quando nos deparamos com ela, fingimos não ver. Se não vemos não está e sem estar, não existe. Fazemos isso também com a pobreza. Tornamos as pessoas invisíveis quando não atrapalham o nosso caminho. Se pudermos desviar, mesmo que esteja no meio da rua, transformamos os nossos medos em algo invisível, como se fosse mesmo possível ignorá-los. Ignoramos o feio, a loucura é feia. A pobreza também. Cremos cegamente que é possível fingir que nada está lá. Se não está, se não vemos, não nos atinge. Não nos alcança.
E a velhinha parada no meio da rua contemplando o céu com os olhos fechados e a chuva a molhar-lhe o rosto.
Paramos o carro. Descemos. Agora os cachorros também nos circundavam. Interpelamos a senhora. Tiramos daquela espécie de transe. Agradeceu-nos. Levamos o carrinho com as verdurinhas molhadas até a sargeta. E como se a garoa já não a tivesse molhado o suficiente, aquela senhora negra, cujo nome até agora não sei, pequena, frágil, começou a chorar. Vertiam lágrimas dos seus olhos miúdos. Enquanto resmungava palavras desconexas: "tantos filhos e nenhum ... nenhum capaz de se lembrar de mim". O choro se transformava numa espécie de precipício que engolia tudo a sua volta. Engoliu um pedaço de mim também.
Sem reação nenhuma, sem palavra para me cair da boca, perguntei se ela queria água. Água. E a senhora a se afogar ali, a se afogar com a água que lhe brotava dos olhos e se atirava do céu. Não podia eu ter oferecido coisa mais estúpida. Foi quase como oferecer corda em casa de enforcado.
Aquela mulher chorava uma dor genuína, uma dor de abandono. Ali na rua, parada debaixo da chuva, ela descobriu o que pouca gente aceita saber: estamos mesmo todos sozinhos. Perdidos no meio do mundo com um carrinho de compras na mão. Somos sempre mesmo muito sozinhos.

domingo, 2 de maio de 2010

Face your Demons

War is breaking loose, it cannot be stopped.
Cars are racing by and you're getting crushed.
Friends are dying slow with a lot of pain
You just fear it all.
Bleeding from a wound that you cannot see.
And you're seeing things that can never be.
After forever - Face Your Demons



Cara, eu sei que não vai adiantar continuar assim porque as coisas não vão mudar. Faz vinte-cinco-fucking-anos que é tudo desse jeito e não é agora que vai ser diferente. Mas não é possível que toda essa loucura seja minha, que geral perdeu a PORRA do bom senso e não tá vendo a merda ser feita. Népossível. Juro. Tô cansada de gente instável porque, OI, já me basta a minha instabilidade. Toda essa incoerência. Tipo bêbado querendo dar lição de moral, sabe? Primeiro pára de beber, depois tira o copo da minha mão, não tenta fazer as duas coisas ao mesmo tempo que é ÓBVIO que eu não vou dar credibilidade. Tá meio insustentável.

Tô exaurida. Não quero ficar e não consigo ir.
Aporismo.

E não, esse post não é para ficar bonito porque é a vida, né, não dá pra ser bonita. Pelo menos não hoje.

sábado, 1 de maio de 2010

[Quando 1 + 1 já não são 2]

Não sei contar.
Minha matemática não é boa,
Mas no meu tempo
1 + 1 somavam 2
Eu + você = 2
Agora não sei!
Desaprendi a contar?
Talvez.
Porque um dia,
Somando você a mim,
A minha conta deu 1,
Então faltava mais 1.
Cadê?
Não achei.
Mas depois procurei
E novamente somei,
Agora a conta deu 3!
Que matemática dos Diabos,
O que há de errado nos cálculos?
Por que não pode ser 2?
Assim, é simples:
Eu + você = 2
Da última vez que somei,
O 1 eu não encontrei,
E muito menos o 3.
Meu 1 + 1 não deu 2,
E explicação não achei.
Como é que a conta dá zero
Se eu me somava a você?
Isso não é matemática,
Eu já não sei mais fazer.
E se eu somar por vetores
Pro resultado bater?
Se a ∑ dá zero
Eu entendo o porquê.
Eu fui pro lado contrário
Que caminhava você.


Poema nerd e boboca da época do cursinho!